segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

Renda Irlandesa afirma tradição e perspectiva em SE

Ao completar cinco anos de registro como patrimônio cultural do Brasil em 2013, a Renda Irlandesa se mantém como marca das tradições sergipanas e potencial de projeção internacional. Segundo dados do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), as raízes do bordado remontam à época do Brasil Colônia, e em Sergipe encontram em Divina Pastora seu foco principal. Para manter vivo o conhecimento, rendeiras, Iphan e instituições de apoio investem em oficinas para instrução de novas bordadeiras, além de noções de empreendedorismo.

De acordo com Rosângela Barreto, técnica em educação do Iphan, a Renda Irlandesa tem ganhado novos usos e estilos de acordo com a criatividade das rendeiras. “Historicamente, a Renda era utilizada nos enxovais das casas nobres. Hoje ela já é empregada em peças de vestuário, bolsas, carteiras, enfeites para casa, brincos e até vestidos de noiva, além de roupas de cama e mesa. É o que nós chamamos de uso recente da Renda”, diz.

Para a técnica em educação, a difusão da Renda Irlandesa foi facilitada pela inserção das rendeiras em grandes eventos. “A participação em exposições, feiras e oficinas faz com que elas ganhem contatos e autoconfiança em seu trabalho. As próprias rendeiras tem ganhado cada vez mais autonomia, ficando responsáveis pela divulgação e distribuição dos produtos. Os turistas veem a desenvoltura e elevada auto-estima delas ao mostrarem suas produções, se interessam e fazem as encomendas, tanto para outros locais do Brasil quanto para destinos internacionais”, relata Rosângela.

A produção da Renda Irlandesa serve de único meio de sustento para muitas famílias, ou pode atuar como fonte alternativa de ganho financeiro. “Embora a origem da renda encontre base nas mulheres simples e iletradas, hoje em dia a maioria das rendeiras trabalha e estuda, e tem formação superior. Algumas das maiores rendeiras do Estado são professoras e pós-graduadas. Para elas, a renda não é a única fonte de sustento, e tem valor de apego emocional e herança cultural”, afirma.

Oficinas
Para propagar o conhecimento sobre as técnicas de produção, as oficinas tem sido um dos principais meios de afirmação da cultura da Renda. Nos dias 30 e 31 de janeiro, a Superintendência do Iphan em Sergipe, o Centro Nacional de Folclore e Cultura Popular (CNFCP) e o Sebrae ministraram uma formação para discutir questões relacionadas ao registro de Identificação Geográfica (IG) no município de Divina Pastora. O título foi concedido à Renda pelo Instituto Nacional da Propriedade Industrial, atribuindo à Renda Irlandesa o status de produto original sergipano.

“As oficinas são base para que as rendeiras passem o conhecimento umas às outras. No Estado, poucas são as artesãs que sabem fazer o desenho que serve de molde para as costuras. Já estamos providenciando esta formação através de oficinas ministradas pelas próprias artistas”, relata Rosângela. "Embora já existam muitas rendeiras, é preciso ter grande prática para confeccionar as peças maiores, já que o processo é longo e trabalhoso. Uma só artesã não dá conta de produzir uma colcha, por exemplo. É preciso dividir o desenho, e depois a mestra faz a união dos pontos. Por isso, formação e experiência são fundamentais", completa.

História
Rosângela Barreto explica a história da chegada da Renda Irlandesa em Sergipe. “Na época da decadência do ciclo da cana, as mulheres que trabalhavam nos canaviais foram para as casas dos senhores de engenho. Como forma de aproveitar a mão de obra excedente que não cabia nos afazeres domésticos, essas mulheres aprendiam com as sinhás o bordado estrangeiro”, conta.

“As sinhás, por sua vez, aprenderam a renda com freiras dos conventos europeus. O nome ‘irlandesa’ vem da nacionalidade das freiras, que eram em sua maioria vindas da Irlanda”, completa. Ainda segundo Rosângela, o foco em Divina Pastora se explica pelo fato de o local ter sido um importante pólo de produção de cana de açúcar, juntamente às cidades do Vale do Continguiba.

Além de Divina, outras sete cidades mantém pequenos grupos de rendeiras. Todos, entretanto, guardam relações com as tradições do município. Dona Sinhá, Marocas e Dina são consideradas as matriarcas da Renda Irlandesa em Sergipe, tendo propagado a técnica entre as novas gerações através da matriz oral. Em 2000, um grupo de rendeiras de Divina Pastora criou a Associação para o Desenvolvimento da Renda Irlandesa (Asderen), ponto de partida para o reconhecimento do bordado como patrimônio cultural, em 2008.

Fonte: Portal Infonet (Por Nayara Arêdes e Aldaci de Souza)

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