Ao completar cinco anos de registro como patrimônio cultural do Brasil
em 2013, a Renda Irlandesa se mantém como marca das tradições sergipanas
e potencial de projeção internacional. Segundo dados do Instituto do
Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), as raízes do bordado
remontam à época do Brasil Colônia, e em Sergipe encontram em Divina
Pastora seu foco principal. Para manter vivo o conhecimento, rendeiras,
Iphan e instituições de apoio investem em oficinas para instrução de
novas bordadeiras, além de noções de empreendedorismo.
De acordo com Rosângela Barreto, técnica em educação do Iphan, a Renda
Irlandesa tem ganhado novos usos e estilos de acordo com a criatividade
das rendeiras. “Historicamente, a Renda era utilizada nos enxovais das
casas nobres. Hoje ela já é empregada em peças de vestuário, bolsas,
carteiras, enfeites para casa, brincos e até vestidos de noiva, além de
roupas de cama e mesa. É o que nós chamamos de uso recente da Renda”,
diz.
Para a técnica em educação, a difusão da Renda Irlandesa foi facilitada
pela inserção das rendeiras em grandes eventos. “A participação em
exposições, feiras e oficinas faz com que elas ganhem contatos e
autoconfiança em seu trabalho. As próprias rendeiras tem ganhado cada
vez mais autonomia, ficando responsáveis pela divulgação e distribuição
dos produtos. Os turistas veem a desenvoltura e elevada auto-estima
delas ao mostrarem suas produções, se interessam e fazem as encomendas,
tanto para outros locais do Brasil quanto para destinos internacionais”,
relata Rosângela.
A produção da Renda Irlandesa serve de único meio de sustento para
muitas famílias, ou pode atuar como fonte alternativa de ganho
financeiro. “Embora a origem da renda encontre base nas mulheres simples
e iletradas, hoje em dia a maioria das rendeiras trabalha e estuda, e
tem formação superior. Algumas das maiores rendeiras do Estado são
professoras e pós-graduadas. Para elas, a renda não é a única fonte de
sustento, e tem valor de apego emocional e herança cultural”, afirma.
Oficinas
Para propagar o conhecimento sobre as técnicas de produção, as oficinas
tem sido um dos principais meios de afirmação da cultura da Renda. Nos
dias 30 e 31 de janeiro, a Superintendência do Iphan em Sergipe, o
Centro Nacional de Folclore e Cultura Popular (CNFCP) e o Sebrae
ministraram uma formação para discutir questões relacionadas ao registro
de Identificação Geográfica (IG) no município de Divina Pastora. O
título foi concedido à Renda pelo Instituto Nacional da Propriedade
Industrial, atribuindo à Renda Irlandesa o status de produto original
sergipano.
“As oficinas são base para que as rendeiras passem o conhecimento umas
às outras. No Estado, poucas são as artesãs que sabem fazer o desenho
que serve de molde para as costuras. Já estamos providenciando esta
formação através de oficinas ministradas pelas próprias artistas”,
relata Rosângela. "Embora já existam muitas rendeiras, é preciso ter
grande prática para confeccionar as peças maiores, já que o processo é
longo e trabalhoso. Uma só artesã não dá conta de produzir uma colcha,
por exemplo. É preciso dividir o desenho, e depois a mestra faz a união
dos pontos. Por isso, formação e experiência são fundamentais",
completa.
História
Rosângela Barreto explica a história da chegada da Renda Irlandesa em
Sergipe. “Na época da decadência do ciclo da cana, as mulheres que
trabalhavam nos canaviais foram para as casas dos senhores de engenho.
Como forma de aproveitar a mão de obra excedente que não cabia nos
afazeres domésticos, essas mulheres aprendiam com as sinhás o bordado
estrangeiro”, conta.
“As sinhás, por sua vez, aprenderam a renda com freiras dos conventos
europeus. O nome ‘irlandesa’ vem da nacionalidade das freiras, que eram
em sua maioria vindas da Irlanda”, completa. Ainda segundo Rosângela, o
foco em Divina Pastora se explica pelo fato de o local ter sido um
importante pólo de produção de cana de açúcar, juntamente às cidades do
Vale do Continguiba.
Além de Divina, outras sete cidades mantém pequenos grupos de rendeiras.
Todos, entretanto, guardam relações com as tradições do município. Dona
Sinhá, Marocas e Dina são consideradas as matriarcas da Renda Irlandesa
em Sergipe, tendo propagado a técnica entre as novas gerações através
da matriz oral. Em 2000, um grupo de rendeiras de Divina Pastora criou a
Associação para o Desenvolvimento da Renda Irlandesa (Asderen), ponto
de partida para o reconhecimento do bordado como patrimônio cultural, em
2008.
Fonte: Portal Infonet (Por Nayara Arêdes e Aldaci de Souza)
Nenhum comentário:
Postar um comentário