Artigo do especialista em turismo Carlos Nascimento para reflexão dos leitores.
Uma das coisas mais surpreendente no caráter sergipano é o nosso
narcisismo reverso, que faz detestar tudo aquilo que nos reflita, ou nos
mostre positivamente. Quando alcançamos um resultado positivo a
primeira reação é duvidar, depois buscar fatores externos, do acaso,
intervenções divinas ou extraterrestres para justificar o resultado
alcançado, nunca se atribuindo à uma ação deliberada ou planejada, ou
algo que nos é nato.
No turismo este caráter fica muito evidente, desde a desvalorização dos
nosso atrativos e produtos, até a diminuição dos resultados alcançados.
É certo que temos muito a avançar, e isto não é exclusivo de Sergipe, é
de todo o Brasil, mas o principal avanço em Sergipe deve ser o abandono
do amadorismo, deixar de lado a achologia e os exercícios de
chutometria para trabalhar em base mais profissional.
Tentar diminuir os avanços das políticas de turismo, a exemplo do
continuo crescimento do movimento de passageiros no Aeroporto Santa
Maria, atribuindo isto ao financiamento de passagens a longo prazo e
aumento do número de voos é não ter a percepção da realidade, ou uma
leitura distorcida desta.
As empresas de cartões de crédito não estabeleceram que unicamente as
rotas para Aracaju seriam financiadas em até 10 vezes, entretanto
destinos turísticos mais consolidados e até mesmo com maior população
que a nossa, para os quais este financiamento também é válido ,não
tiveram o incremento do número de passageiros na mesma proporção que o
registrado no Santa Maria, pois a situação favorável aqui não foi
registrada tão somente na variação percentual, mas também na variação
bruta do número de passageiros em 2012 em relação a 2011, suplantada
somente pelo Aeroporto Pinto Martins de Fortaleza que registrou um
incremento de 317.119 passageiros, enquanto que o aeroporto aracajuano
registrou um incremento de 280.258 passageiros, muito acima do
incremento registrado no Aeroporto Zumbi dos Palmares, em Maceió, o
terceiro melhor em variação bruta, que foi de 162.640 passageiros. Será
que os nossos especialistas explicam o fato do Aeroporto de Salvador ter
crescido somente 1,60% em 2012 em relação a 2011?
Se hoje tem mais voos para Aracaju é porque há uma demanda crescente
para o destino Sergipe, e muito mais que isto as companhais aéreas foram
procuradas, havendo uma colaboração entre SETUR, EMSETUR e INFRAERO
para que isto ocorresse, e a base de tudo foi um panejamento sobre o o
modal aeroviário, um estudo profundo que sinalizou tendências e mostrou
que investir em novos voos e aeronaves para as rotas que nos servem era
viável. Agora se dará a segunda etapa, com voos fretados de Santiago do
Chile para Aracaju, conquistado graças à um projeto apresentado pela
Emsetur.
Todos esperamos ansiosamente que comecem as obras de ampliação do Santa
Maria, mas há no Brasil uma lógica que ninguém entende, como por
exemplo preferir-se ampliar o Aeroporto de Parnaíba-PI, que quase não
recebe voos, em detrimento do acanhado Aeroporto de Vitória, que hoje é o
13º mais movimentado do Brasil e tem um terminal de passageiros com
apenas 4.483m², o que é menos da metade do terminal de passageiros do
Santa Maria, que tem 9.321m², o qual, aliás, é maior que o terminal de
muitos aeroportos mais movimentados, a exemplo do de Goiânia (7.650 m²) e
São Luís (8.100m²) , que foi recentemente reformado .
Reitero que o turismo sergipano tem muito que avançar, principalmente
na capacitação, e não só dos trabalhadores, na gestão do turismo nos
municípios, no planejamento nos diversos níveis público e privado, no
entendimento que o fornecimento de dados corretos são essenciais, dentre
outras coisas. Mas não podemos esconder os avanços, ou atribuí-los ao
acaso ou intervenções do além.
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