terça-feira, 22 de janeiro de 2013

Turismo e o narcismo reverso do sergipano

Artigo do especialista em turismo Carlos Nascimento para reflexão dos leitores.

Uma das coisas mais surpreendente no caráter sergipano é o nosso narcisismo reverso, que faz detestar tudo aquilo que nos reflita, ou nos mostre positivamente. Quando alcançamos um resultado positivo a primeira reação é duvidar, depois buscar fatores externos, do acaso, intervenções divinas ou extraterrestres para justificar o resultado alcançado, nunca se atribuindo à uma ação deliberada ou planejada, ou algo que nos é nato.
No turismo este caráter fica muito evidente, desde a desvalorização dos nosso atrativos e produtos, até a diminuição dos resultados alcançados. É certo que temos muito a avançar, e isto não é exclusivo de Sergipe, é de todo o Brasil, mas o principal avanço em Sergipe deve ser o abandono do amadorismo, deixar de lado a achologia e os exercícios de chutometria para trabalhar em base mais profissional.
Tentar diminuir os avanços das políticas de turismo, a exemplo do continuo crescimento do movimento de passageiros no Aeroporto Santa Maria, atribuindo isto ao financiamento de passagens a longo prazo e aumento do número de voos é não ter a percepção da realidade, ou uma leitura distorcida desta.
As empresas de cartões de crédito não estabeleceram que unicamente as rotas para Aracaju seriam financiadas em até 10 vezes, entretanto destinos turísticos mais consolidados e até mesmo com maior população que a nossa, para os quais este financiamento também é válido ,não tiveram o incremento do número de passageiros na mesma proporção que o registrado no Santa Maria, pois a situação favorável aqui não foi registrada tão somente na variação percentual, mas também na variação bruta do número de passageiros em 2012 em relação a 2011, suplantada somente pelo Aeroporto Pinto Martins de Fortaleza que registrou um incremento de 317.119 passageiros, enquanto que o aeroporto aracajuano registrou um incremento de 280.258 passageiros, muito acima do incremento registrado no Aeroporto Zumbi dos Palmares, em Maceió, o terceiro melhor em variação bruta, que foi de 162.640 passageiros. Será que os nossos especialistas explicam o fato do Aeroporto de Salvador ter crescido somente 1,60% em 2012 em relação a 2011?
Se hoje tem mais voos para Aracaju é porque há uma demanda crescente para o destino Sergipe, e muito mais que isto as companhais aéreas foram procuradas, havendo uma colaboração entre SETUR, EMSETUR e INFRAERO para que isto ocorresse, e a base de tudo foi um panejamento sobre o o modal aeroviário, um estudo profundo que sinalizou tendências e mostrou que investir em novos voos e aeronaves para as rotas que nos servem era viável. Agora se dará a segunda etapa, com voos fretados de Santiago do Chile para Aracaju, conquistado graças à um projeto apresentado pela Emsetur.
Todos esperamos ansiosamente que comecem as obras de ampliação do Santa Maria, mas há no Brasil uma lógica que ninguém entende, como por exemplo preferir-se ampliar o Aeroporto de Parnaíba-PI, que quase não recebe voos, em detrimento do acanhado Aeroporto de Vitória, que hoje é o 13º mais movimentado do Brasil e tem um terminal de passageiros com apenas 4.483m², o que é menos da metade do terminal de passageiros do Santa Maria, que tem 9.321m², o qual, aliás, é maior que o terminal de muitos aeroportos mais movimentados, a exemplo do de Goiânia (7.650 m²) e São Luís (8.100m²) , que foi recentemente reformado .
Reitero que o turismo sergipano tem muito que avançar, principalmente na capacitação, e não só dos trabalhadores, na gestão do turismo nos municípios, no planejamento nos diversos níveis público e privado, no entendimento que o fornecimento de dados corretos são essenciais, dentre outras coisas. Mas não podemos esconder os avanços, ou atribuí-los ao acaso ou intervenções do além.

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