*Por Josely Thais Rodrigues¹, Luciana Pereira² e Amâncio Cardoso³
No último dia 05 de
maio, a cidade de Maruim completou 160 anos de emancipação. A elevação
de vila para cidade em 1854 é um indício de que o lugar ganhou relativa
importância entre as cidades do antigo Vale do Cotinguiba, região
açucareira de Sergipe desde o século XIX.
Outro sinal do valor de Maruim à época, foi a visita de Suas Majestades
Imperiais D. Pedro II (1825-1891) e Dona Tereza Cristina (1822-1889) e
suas comitivas. A visita imperial a Maruim ocorreu no dia 14 de janeiro
de 1860, seis anos após a elevação de Maruim à categoria de cidade. Eles
iniciaram a viagem, saindo de Aracaju,pelo rio Sergipe no vapor Pirajá.
Em seguida, passaram para a galeota (pequena embarcação movida a remos e
vela) e seguiram através do rio Ganhamoroba até Maruim, onde aportaram
num cais de pedras. Muitos maruinenses esperavam com entusiasmo a
chegada do casal imperial.
Ao descer da embarcação, o Imperador foi encaminhado para debaixo de um
palio (cobertura suspensa por varas que servia para proteger os
visitantes). Nele, D. Pedro II se dirigiu a um trapiche (armazém em que
se guardam mercadorias) onde foi recebido pelo presidente da Câmara que
lhe entregou a chave da cidade. No local, funciona atualmente a
Secretaria Municipal de Obras.
Logo depois, Sua Majestade passou pela então praça da Alegria (atual da
Bandeira) sob um arco, construído para o evento, simbolizando as portas
da cidade.
Em seguida, todos se dirigiram para a Igreja Matriz Senhor dos Passos,
onde ficaram em oração. Este templo, que estava ainda em construção, foi
elogiado pelo Imperador, pois ele achou perfeito o trabalho do
entalhador e subiu à tribuna da capela-mor de onde observou todo o
monumento. A igreja do Senhor dos Passos de Maruim foi tombada
(protegida por lei) em 1981 como patrimônio cultural estadual. Ela foi
inaugurada em 1862 e sua obra financiada pelo Barão de Maruim (João
Gomes de Melo), senador e grande proprietário sergipano do Tempo do
Império.
Ao sair da Igreja, Sua Majestade passou pela rua de pedras calcárias
brutas, atual rua General Siqueira. Conforme reza a tradição, esta via
foi calçada com mão de obra escravizada e também especialmente
construída para receber os ilustres visitantes. Ainda hoje, este
calçamento se encontra conservado.
Após atravessar a antiga Rua de Pedras, o monarca e seu séquito
visitaram o Quartel de Polícia situado na rua do Açougue, nº 53, onde se
encontra uma residência. No Quartel, D. Pedro teria indagado ao
comandante para que serviria uma palmatória pendura na parede. O
policial respondeu-lhe que era para castigar escravos que fossem
encontrados fora de hora vagando pelas ruas. O Imperador solicitara
então que aquela atitude fosse suspensa pelo comandante.
Saindo do Quartel, Sua Majestade se encaminha para a então Capela da Boa
Hora. Em Maruim, a antiga capela tornou-se uma igreja, situada ainda na
praça da Boa Hora. A capelinha possivelmente fora erguida no início do
século XIX. Nela, Pedro II orou e notou que estava abandonada. Hoje,
esta igreja ainda funciona e está reformada.
Depois de visitar o Quartel, o Imperador seguiu até a Casa da Câmara
Municipal, onde foi recebido com “maior júbilo”. Em seguida, lavrou-se
uma “Ata Imperial”. A Câmara se localiza na atual praça Barão de Maruim,
próxima à Prefeitura e à Igreja Matriz.
Às 13 horas, D. Pedro e esposa recolheram-se ao Paço (casa que serviu ao
Imperador durante sua estadia em Maruim). Neste local, ele iniciou o
“Beija-mão” – antigo costume de reverência a pessoas eminentes ou
consideradas sagradas. Além disso, ele recebeu autoridades, fez doações
em dinheiro para obras e filantropia. O antigo Paço se localizava onde
está a praça da Bandeira.
Às 18:40, o Imperador D. Pedro II, a esposa e a comitiva despedem-se de
Maruim e embarcam para a cidade de Laranjeiras, no fundo do Vale do
Cotinguiba.
Como se viu, é possível implantar em Maruim um roteiro turístico no
segmento histórico-cultural. A cidade possui evidentes potencialidades
nesta área. O roteiro sobre a visita do Imperador é apenas um exemplo.
Outros podem ser implantados, tal como o roteiro por antigos engenhos de
açúcar. Para isso, é necessário desenvolver um planejamento turístico
que contemple uma melhor infraestrutura de serviços, qualificação de
profissionais e restauração de antigos monumentos, entre outros.
Caso tudo isso ocorresse, Sergipe ganharia um novo roteiro a cidades
históricas; e assim complementaria destinos já consolidados neste
segmento: São Cristóvão e Laranjeiras. Desta forma, teríamos um roteiro
integrado, em conformidade com as diretrizes do Ministério do Turismo.
Referências:
- CRUZ E SILVA, Maria Lúcia Marques. Inventário Cultural de Maruim. Aracaju: Secretaria de Cultura, 1994.
- Diário do Imperador D. Pedro II na sua visita a Sergipe em janeiro de 1860, Revista do IHGS, Aracaju, n. 26, v. 21, 1961-1995.
- Relatório da Viagem Imperial à Província de Sergipe. Bahia: Typographia do Diário, 1860.
* ¹ e ² são graduandas em Gestão de Turismo, no IFS; ³ Professor do curso de Turismo do IFS (acneto@infonet.com.br)
Este artigo foi originalmente publicado no Jornal da Cidade, de 15 de maio de 2014. Aracaju (SE)
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